GRACCO AFRICAN STUDIES
"O sol de Túnis Brilha no rosto dela O vento de Damasco Não deixa a sentinela O ar do Cairo Ainda não dá para curtir A águia cai e o Dragão quer subir Muda, Luta, Muda ,Continuar" (Cañotus, Primavera Árabe)
quinta-feira, 20 de novembro de 2014
Negro deve se organizar para ser reconhecido como igual
FERNANDA MENADE SÃO PAULO
terça-feira, 21 de outubro de 2014
O belo gigante africano esquecido
Por NATALIE ANGIER
DELTA DO OKAVANGO, Botsuana - As girafas podem ser um item básico em
zoológicos, nos logotipos de corporações e na indústria dos brinquedos
de pelúcia, mas até recentemente quase ninguém as estudava em seu
habitat.
As girafas são a "megafauna esquecida", disse Julian Fennessy, da
Fundação para a Conservação da Girafa. "Você ouve tudo sobre elefantes,
Jane Goodall e seus chimpanzés, Dian Fossey e os gorilas da montanha,
mas há uma enorme escassez de informações sobre girafas."
Isso está mudando. Os cientistas descobriram recentemente, por exemplo,
que as girafas não são socialmente inaptas nem indiferentes às suas
crias, como costumavam ser vistas, e que na realidade têm muito em comum
com os elefantes. Foi constatado que as girafas fêmeas formam amizades
estreitas e duradouras, e as mães que perdem crias mostram sinais de
persistente tristeza.
"As girafas têm sido subestimadas", disse Zoe Muller, bióloga
especializada em vida selvagem, da Universidade de Warwick, Inglaterra.
Mas com os avanços na tecnologia de pesquisa, "nós pudemos mapear sua
estrutura social e relacionamentos de um modo bem mais sofisticado; há
muito mais acontecendo do que compreendemos".
Com a idade, os machos geralmente avançam em termos de hierarquia e
acesso às fêmeas férteis, e os dominantes ostentam essa senioridade: os
ossicones (chifres) gêmeos engrossam e perdem seu charmoso tufo; uma
massa óssea ganha proeminência no meio da testa; a musculatura do
pescoço se torna visível. Em confrontos, cada macho usa seu pescoço como
uma lançadeira para bater a cabeça com força contra o rival, algumas
vezes com efeito letal.
A girafa é encontrada em toda a África subsaariana, classificada como
uma espécie só, mas com até nove subespécies. Não é tida como em risco
de extinção, mas nos últimos 15 anos seu número teve uma queda acentuada
de 140 mil para menos de 80 mil indivíduos.
A extraordinária boca da girafa é como um conjunto de mãos humanas: seus
lábios grossos, com capacidade de agarrar, e sua extensa língua de 45
centímetros podem abocanhar um galho e extrair as folhas, evitando
espinhos e farpas. A cada dia, e com frequência noite adentro, uma
girafa consome cerca de 35 kg de folhas, brotos, plantas trepadeiras e
ocasionalmente pedaços de carne ressecada lambida de ossos, tudo isso
digerido num estômago de ruminante, com quatro câmaras.
Os olhos da girafa estão entre os maiores dos mamíferos terrestres; eles
podem enxergar em cores e a uma grande distância à sua frente, e a sua
visão periférica tem um ângulo tão amplo que, basicamente, elas podem
ver também o que acontece atrás delas.
O sistema cardiovascular da girafa também é interessante. Uma girafa
grande pode chegar a seis metros de altura. O desafio múltiplo, no caso,
é como bombear o sangue para cima e puxá-lo para baixo, evitando ao
mesmo tempo que os finíssimos vasos do cérebro estourem ou que o sangue
se acumule nas patas.
Cientistas descobriram que a girafa tem paredes vasculares extremamente
grossas, ao passo que fibras rígidas e rugosas de colágeno no pescoço e
nas pernas ajudam a manter o sangue em movimento, do mesmo modo como as
apertadas vestes antigravidade usadas pelos astronautas e pilotos de
caças preservam o fluxo sanguíneo nas mais extremas mudanças
gravitacionais. Uma complexa malha de vasos capilares e válvulas
armazena e libera sangue no pescoço, permitindo à girafa se curvar para
beber água e depois levantar a cabeça rapidamente, sem desmaiar.
Heather More e Shawn O'Connor, da Universidade Simon Fraser, na Colúmbia
Britânica (Canadá), mediram a capacidade de reação motora e sensorial
da girafa: quanto tempo leva para um impulso nervoso percorrer a
distância entre um músculo do tornozelo e a cabeça, e depois retornar.
Em um texto na revista "The Journal of Experimental Biology", os
pesquisadores observaram que a taxa de condução nervosa na girafa é
semelhante à de qualquer outro mamífero.
Considerando a distância comparativamente maior que o sinal nervoso tem
de percorrer, More disse ser possível que a girafa não possa reagir
rapidamente a fatos ocorridos lá embaixo.
Mas, para a girafa, as vantagens alimentares provenientes de seu corpo
longilíneo superam qualquer diminuição na velocidade do reflexo. Não é
preciso correr quando se é um poema silencioso, mascarado por uma
árvore. NYT, 21.10.14
quarta-feira, 15 de outubro de 2014
Moçambique deve reeleger hoje partido que governa desde 1975
Candidato da Frelimo, sigla que dirige o país desde a independência de Portugal, está à frente
Caso não eleja seu representante, Renamo terá também de lutar para continuar como maior força opositora
Cerca de 11 milhões de moçambicanos deverão ir às urnas nesta quarta-feira (15) para votar nas eleições presidenciais, legislativas e provinciais, que devem manter a hegemonia da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) no governo.
Analistas preveem que o candidato governista, Filipe Nyusi, ex-ministro da Defesa, seja eleito com cerca de 60% dos votos.
Além do presidente, serão eleitos também 250 deputados e membros das assembleias provinciais.
A Frelimo governa o país desde a independência de Portugal, em 1975 --primeiro, como partido único e, desde a chegada da democracia, como vencedor nas eleições de 1994, 1999, 2004 e 2009.
Apesar de relativamente desconhecido, Nyusi mantém uma grande vantagem sobre Afonso Dhlakama, da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), maior partido de oposição, e sobre Daviz Simango, candidato do MDM (Movimento Democrático de Moçambique).
Seus dois adversários, porém, cresceram muito durante a campanha.
CONTINUIDADE
No domingo, último dia de campanha, Nyusi disse que pretende dar continuidade ao governo de quatro décadas da Frelimo e pediu aos eleitores que não tenham medo.
O candidato da Renamo, que se comprometeu a mudar radicalmente a paisagem política das últimas duas décadas, acusa a Frelimo de permitir uma concentração sistemática do poder em um punhado de privilegiados.
Caso não vença, a Renamo terá de lutar para manter a posição de principal sigla da oposição, já que o MDM tem crescido, atraindo eleitores da Renamo e da Frelimo.
"O MDM é a principal voz da população que não concorda com o governo atual, e esperamos aumentar nossos representantes", disse à Folha o candidato do MDM, Daviz Simango.
Segundo ele, pela primeira vez na história desde o acordo de paz, há uma terceira via viável e que não nasceu da luta armada.
Cerca de 2.500 observadores internacionais supervisionarão o processo, cujos resultados devem sair em um mês.
VALE
A mineradora brasileira Vale é um dos maiores investidores estrangeiros em Moçambique e explora umas das maiores reservas de carvão mineral da África, na província de Tete, no norte.
A empresa, que já investiu US$ 4,5 bilhões no país, tem outros projetos, como uma mina de carvão em Moatize, a ferrovia Corredor Nacala e um porto em Nampula.
Mas o negócio em Tete enfrenta dificuldades, porque a ferrovia ainda não foi concluída e há problemas para escoar o carvão.
A empresa está tentando agora vender parte de seus ativos no país. A previsão é de que até 2015, com a duplicação da produção de carvão em Moatize, a empresa chegue a um investimento de US$ 8 bilhões.
Colaborou PATRÍCIA CAMPOS MELLO
Consolidar democracia e administrar expectativas serão os maiores desafios
FREDERICO PAIVAESPECIAL PARA A FOLHA
Há imagens que marcam a história de um país. No caso de Moçambique, é uma foto de 1968, no 2º Congresso da Frelimo, a frente de libertação formada para combater o colonialismo português.
Nela estão perfilados todos os que seriam presidentes da República após a independência: Samora Machel, Joaquim Chissano e Armando Guebuza. Tal revezamento foi mera coincidência e, pela primeira vez, o próximo chefe de Estado não será um dos líderes do movimento.
Os moçambicanos escolhem entre Filipe Nyusi --da Frelimo, que governa desde 1975, tendo vencido todas as eleições desde 1994--, Afonso Dhlakama, da Renamo, movimento que lutou contra o governo durante a guerra civil que assolou o país por 15 anos, e Daviz Simango, líder do Movimento Democrático de Moçambique (MDM).
A eleição deve ser a mais disputada desde 1994 e é mais um passo rumo à consolidação de uma das democracias mais estáveis do continente, que já superou a exótica imagem do mundo sobre a política africana.
Há alternância de chefes de Estado, eleitos em pleitos elogiados e sem chance de terceiro mandato.
O próximo presidente terá dois grandes desafios.
O primeiro é consolidar a democracia do país via mudança geracional, fazendo com que a população passe a julgar os seus líderes pela qualidade de seus governos, e não pela gratidão devida aos libertadores coloniais.
O segundo é gerir as expectativas criadas pela descoberta da quarta maior reserva de gás natural do mundo, rivalizando com Catar, Irã e Rússia, e pelo início da exportação do carvão de Moatize, explorado pela Vale.
Segundo estimativas, a economia crescerá cerca de 15% ao ano a partir de 2018.
Adiciona-se a essa estimativa o fato de o país ter crescido a taxas de milagre brasileiro nos últimos anos sem muitos progressos sociais.
O que fazer para que esse crescimento tenha impacto positivo em um país com expectativa de vida de 52 anos e com 50% da população abaixo da linha de pobreza?
Essa é a pergunta mais importante dessas eleições. Para respondê-la, será quase impossível não mencionar casos recentes de grande inserção social, como o Brasil.
Abre-se aí uma oportunidade para o Brasil.
Com capacidade de investimento e com tecnologia em agricultura e saúde, podemos cooperar no desafio de unir o crescimento econômico à inclusão social no país.
FREDERICO PAIVA, bacharel em relações internacionais e mestre em cooperação internacional, é especialista em África da 4iGreen Consultoria. Folha, 15.10.14
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quinta-feira, 3 de julho de 2014
Socialite é criticada no Quênia depois de fazer branqueamento
DE SÃO PAULO
A socialite Vera Sidika, conhecida como "Kim Kardashian do Quênia" --em referência ao seu bumbum proeminente sempre exibido nas redes sociais--, se envolveu em uma polêmica no seu país após admitir em um programa de TV que havia feito um tratamento para clarear a pele, segundo informações da emissora britânica BBC.
Sidika disse que o processo de clareamento foi feito no Reino Unido e sugeriu que custou algo em torno de 15 milhões de xelins quenianos (R$ 378 mil).
Segundo Sidika, após o tratamento houve um aumento nas ofertas de trabalho.
"O problema é meu (...) O corpo é meu e de mais ninguém", disse Sidika ao comentar sobre o tratamento.
As declarações causaram polêmica nas redes sociais.
"Fui acusado de promover e endossar uma visão centrada no padrão de beleza branco apenas por entrevistá-la (...) A crítica foi muito dura", disse à BBC Larry Madowo, apresentador do programa.
A NTV decidiu fazer uma continuação do programa para discutir a questão e encorajou as pessoas a partilhar suas ideias por meio da hashtag #BleachedBeauty (do inglês beleza branqueada).
Mais de 4.000 pessoas comentaram condenando ou endossando a prática.
Comentários como "#BleachedBeauty é falso. Apenas quem tem baixa autoestima faria isso" e "#BleachedBeauty senhoras em breve começará um branqueamento de seus cérebros para que venham com ideias brilhantes" foram postados no Twitter.
Outros saíram em defesa de Sidika, elogiando a sua "abertura e honestidade" em falar sobre o assunto.
"Fascinante", "surpreendente" e "hipócrita" é como Madowo descreve as reações nas mídias sociais. "Muitos homens no Quênia preferem mulheres de pele clara".
Ao contrário da Índia, onde os cremes de clareamento são comuns, no Quênia, o clareamento da pele continua tabu, e geralmente é feito em clínicas clandestinas.
Médicos dizem que a prática está em ascensão e alertam sobre o perigo de tratamentos não regulamentados. Folha, 03.07.2014.
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terça-feira, 15 de abril de 2014
Ataques terroristas matam 71 na capital da Nigéria: Explosões em terminal rodoviário próximo a Abuja deixaram 124 feridos
Atentados foram os primeiros na cidade em dois anos; suspeitas recaem sobre o grupo islamita Boko Haram
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
Duas explosões deixaram 71 mortos e 124 feridos em um terminal rodoviário perto de Abuja, capital da Nigéria, na manhã de ontem.
As explosões aconteceram no terminal de Nyanya e atingiram vários ônibus e lojas.
Os ataques foram os primeiros na capital em dois anos.
As suspeitas do atentado recaem sobre o grupo extremista islâmico Boko Haram, que atua principalmente no nordeste do país. Até a conclusão desta edição, porém, nenhum grupo havia reivindicado o atentado.
Segundo Charles Otegbade, diretor das operações de busca e resgate, uma das explosões teve origem em um veículo estacionado dentro do terminal rodoviário.
O atentado aconteceu em um horário de muito movimento, no qual as pessoas passam pelo terminal para seguir para o trabalho em Abuja, afirmou o porta-voz da agência nacional dos serviços de emergência, Manzo Ezekiel.
"Eu esperava para entrar em um ônibus quando ouvi uma explosão ensurdecedora e, então, vi fumaça", disse Mimi Daniels, que sobreviveu ao atentado.
O presidente da Nigéria, Goodluck Jonathan, esteve no local após o ataque e prometeu acabar com a insurreição do grupo islamita.
"O Boko Haram é uma página negra na história de nosso desenvolvimento, mas vamos virar essa página", disse.
A polícia disse que seus órgãos estavam em "alerta vermelho" e exortou os nigerianos a ajudar na investigação para encontrar os assassinos.
"De certa forma, não é uma grande surpresa", disse Kole Shettima, diretor do escritório de Abuja da Fundação MacArthur, uma instituição de caridade dos EUA. "A situação está cada vez pior."
ESTADO ISLÂMICO
Os terroristas do Boko Haram lutam para estabelecer um Estado islâmico na região nordeste nigeriana. Nos últimos meses, o grupo intensificou os ataques a alvos civis, a quem acusam de colaborar com as forças de segurança e com o governo.
Há duas semanas, 20 membros do grupo morreram em confronto contra o Exército quando tentavam escapar de uma prisão em Abuja. No domingo, ataques do Boko Haram deixaram pelo menos 98 mortos na Nigéria.
Folha, 15.04.2014
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quinta-feira, 10 de abril de 2014
Negócios com a Guiné Equatorial ajudam a perpetuar poder repressivo de Obiang Nguema
Numa investigação publicada em 2013, académica espanhola denuncia o "despotismo predador da família Nguema", acusada de lucrar com os ganhos do petróleo em detrimento da população. Empresa estatal deste país está prestes a entrar no capital do Banif.
A petrolífera estatal da Guiné Equatorial GEPetrol é, segundo o Diário Económico, uma das duas empresas através das quais a ex-colónia espanhola – que quer juntar-se à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) – deverá entrar no aumento de capital do Banif. A outra é a empresa nacional de gás, que o jornal refere como Enagás, mas que poderá ser a Sonagás.
Pouco se fica a saber sobre a GEPetrol, na sua página na Internet, onde não constam documentos ou relatórios e contas (dando nota dos seus investimentos e participações, por exemplo), mas onde a empresa se apresenta, desde a sua criação, em 2001, como um “elemento-chave para o desenvolvimento do país”. A gestão que faz dos recursos petrolíferos do país tem como objectivo o alcance dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM), estabelecidos pela ONU, lê-se no site, sendo a prioridade a erradicação total da pobreza no país.
A Guiné Equatorial é um dos países menos desenvolvidos do mundo, onde a esperança de vida é de 51 anos, as escolas e os hospitais, além de serem muito poucos, são pobres, e onde a Internet – uma janela para o mundo, de dentro de um país sem informação livre – só chega a quem tem luz e, mesmo aqui, os cortes são constantes. E assim permanece, mesmo depois das primeiras descobertas de petróleo, em meados dos anos 1990.
O país é rico – mas apenas no indicador que mede o Produto Interno Brutoper capita. E é também por causa da riqueza e crescimento, graças ao petróleo, que apresenta a mais alta discrepância entre rendimento e desenvolvimento. Em 2011, estava no 45.º lugar no ranking de PIB per capita, mas apenas em 136.º no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano numa lista de 187 países da ONU.
Vazio de informação
É um país, em grande parte, sem as estatísticas que são conhecidas em muitos outros. Na Guiné Equatorial, não é possível saber a taxa de mortalidade infantil ou o número de óbitos nos hospitais. Esse vazio de informação permite ocultar o que a académica espanhola Alicia Campos-Serrano, da Universidade Autónoma de Madrid, considera ser a diferença entre os que vivem com “a escassez e a degradação dos serviços públicos” e aqueles que “beneficiam dos lucros gerados pelo petróleo”, num artigo integrado em 2013 nas publicações dos Cambridge Journals.
“Muitos dos benefícios da indústria extractiva estão a ser acumulados longe do país, não só pelas companhias estrangeiras, mas também por pessoas que ocupam cargos do Governo”, denuncia, embora reconhecendo que, nos últimos anos, alguns ganhos tenham começado a ser investidos no país. E acrescenta: “O Presidente Obiang Nguema e os seus familiares constituem os principais intermediários entre os grupos económicos estrangeiros e o território do Estado.” E expõe uma situação em que parte dos ganhos – dos pagamentos devidos às empresas estatais de gás e de petróleo (GEPetrol) nos contratos assinados – acaba por ser depositada “em contas bancárias no estrangeiro em nome de altos responsáveis [do Governo] com a necessária cooperação das empresas”.
Alicia Campos-Serrano apoia-se na investigação ao Riggs Bank nos Estados Unidos, conduzida pelo Senado norte-americano, que, em 2004, revelou que a família de Obiang tinha recebido, a título pessoal, pagamentos de companhias petrolíferas norte-americanas como a Exxon Mobil ou a Amerada Hess. Mas não só. Além desta realidade, acrescenta a investigadora, que fala em “despotismo predador da família Nguema”, a acumulação de riqueza “por parte da elite política toma forma também através do controlo de empresas nacionais, como a GEPetrol ou a Sonagas”.
A pouca informação existente é, porém, suficiente para perceber que o boom do petróleo teve impacto nos indicadores macroeconómicos, mas não nas condições de vida da população, acrescentava em 2013 esta professora e autora de vários estudos sobre petróleo em África em países como a Guiné Equatorial. E dizia que, depois da descoberta de petróleo, o clã Nguema formou uma rede de importantes parceiros – desde empresas a governos estrangeiros – que contribuíram para manter “a lógica de domínio político” assente na repressão.
Acusações de corrupção
Neste país, com uma parte continental (entre os Camarões e o Gabão) e duas ilhas, Bioko e Annabon, as pessoas vivem com medo de falar, ou de se manifestar, dizem opositores e críticos que acabam por escolher o caminho do exílio.
As prisões e a tortura de opositores do regime são frequentes, tal como é regular a realização de eleições. Mas estas apenas servem para perpetuar o poder de Obiang, com vitórias acima dos 98% com o seu Partido Democrático da Guiné Equatorial. Este controla 99 dos 100 lugares no Parlamento.
Fonte: http://www.publico.pt/economia/noticia/negocios-com-a-guineequatorial-ajudam-a-perpetuar-poder-repressivo-de-obiang-nguema-1622654
terça-feira, 8 de abril de 2014
Ruanda exclui França de evento sobre os 20 anos de genocídio: Franceses são acusados de ter colaborado em matança de 1994
DA AFP
O embaixador da França em Ruanda disse ontem que foi excluído das cerimônias de recordação dos 20 anos do genocídio, em meio a uma controvérsia sobre o papel francês na tragédia de 1994.
"Ontem (domingo) à noite, o ministério ruandês das Relações Exteriores telefonou para informar que eu não estava credenciado para as cerimônias", disse o embaixador, Michel Flesch.
A ministra francesa da Justiça, Christiane Taubira, cancelou a viagem prevista para participar nas cerimônias, depois que o presidente de Ruanda, Paul Kagame, voltou a acusar a França de ter desempenhado um "papel direto na preparação do genocídio" e de ter "participado em sua execução".
A França, aliada do governo nacionalista hutu antes de 1994, sempre negou qualquer cumplicidade no genocídio que matou aproximadamente 800 mil pessoas em 100 dias, grande parte da etnia tutsi, minoritária.
A acusação é de que os franceses ajudaram a armar os responsáveis pelos massacres e deram cobertura diplomática ao governo.
A ministra ruandesa das Relações Exteriores, Louise Mushikiwabo, insistiu anteontem em que a França deveria enfrentar "a difícil verdade" por suas ações há duas décadas. "Para que nossos dois países comecem realmente a se entender, devemos enfrentar a verdade. A verdade de ser próximo a qualquer pessoa que esteja associada ao genocídio é difícil de aceitar", declarou.
Folha, 08.04.2014
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