terça-feira, 21 de outubro de 2014

O belo gigante africano esquecido



Por NATALIE ANGIER
DELTA DO OKAVANGO, Botsuana - As girafas podem ser um item básico em zoológicos, nos logotipos de corporações e na indústria dos brinquedos de pelúcia, mas até recentemente quase ninguém as estudava em seu habitat.
As girafas são a "megafauna esquecida", disse Julian Fennessy, da Fundação para a Conservação da Girafa. "Você ouve tudo sobre elefantes, Jane Goodall e seus chimpanzés, Dian Fossey e os gorilas da montanha, mas há uma enorme escassez de informações sobre girafas."
Isso está mudando. Os cientistas descobriram recentemente, por exemplo, que as girafas não são socialmente inaptas nem indiferentes às suas crias, como costumavam ser vistas, e que na realidade têm muito em comum com os elefantes. Foi constatado que as girafas fêmeas formam amizades estreitas e duradouras, e as mães que perdem crias mostram sinais de persistente tristeza.
"As girafas têm sido subestimadas", disse Zoe Muller, bióloga especializada em vida selvagem, da Universidade de Warwick, Inglaterra. Mas com os avanços na tecnologia de pesquisa, "nós pudemos mapear sua estrutura social e relacionamentos de um modo bem mais sofisticado; há muito mais acontecendo do que compreendemos".
Com a idade, os machos geralmente avançam em termos de hierarquia e acesso às fêmeas férteis, e os dominantes ostentam essa senioridade: os ossicones (chifres) gêmeos engrossam e perdem seu charmoso tufo; uma massa óssea ganha proeminência no meio da testa; a musculatura do pescoço se torna visível. Em confrontos, cada macho usa seu pescoço como uma lançadeira para bater a cabeça com força contra o rival, algumas vezes com efeito letal.
A girafa é encontrada em toda a África subsaariana, classificada como uma espécie só, mas com até nove subespécies. Não é tida como em risco de extinção, mas nos últimos 15 anos seu número teve uma queda acentuada de 140 mil para menos de 80 mil indivíduos.
A extraordinária boca da girafa é como um conjunto de mãos humanas: seus lábios grossos, com capacidade de agarrar, e sua extensa língua de 45 centímetros podem abocanhar um galho e extrair as folhas, evitando espinhos e farpas. A cada dia, e com frequência noite adentro, uma girafa consome cerca de 35 kg de folhas, brotos, plantas trepadeiras e ocasionalmente pedaços de carne ressecada lambida de ossos, tudo isso digerido num estômago de ruminante, com quatro câmaras.
Os olhos da girafa estão entre os maiores dos mamíferos terrestres; eles podem enxergar em cores e a uma grande distância à sua frente, e a sua visão periférica tem um ângulo tão amplo que, basicamente, elas podem ver também o que acontece atrás delas.
O sistema cardiovascular da girafa também é interessante. Uma girafa grande pode chegar a seis metros de altura. O desafio múltiplo, no caso, é como bombear o sangue para cima e puxá-lo para baixo, evitando ao mesmo tempo que os finíssimos vasos do cérebro estourem ou que o sangue se acumule nas patas.
Cientistas descobriram que a girafa tem paredes vasculares extremamente grossas, ao passo que fibras rígidas e rugosas de colágeno no pescoço e nas pernas ajudam a manter o sangue em movimento, do mesmo modo como as apertadas vestes antigravidade usadas pelos astronautas e pilotos de caças preservam o fluxo sanguíneo nas mais extremas mudanças gravitacionais. Uma complexa malha de vasos capilares e válvulas armazena e libera sangue no pescoço, permitindo à girafa se curvar para beber água e depois levantar a cabeça rapidamente, sem desmaiar.
Heather More e Shawn O'Connor, da Universidade Simon Fraser, na Colúmbia Britânica (Canadá), mediram a capacidade de reação motora e sensorial da girafa: quanto tempo leva para um impulso nervoso percorrer a distância entre um músculo do tornozelo e a cabeça, e depois retornar. Em um texto na revista "The Journal of Experimental Biology", os pesquisadores observaram que a taxa de condução nervosa na girafa é semelhante à de qualquer outro mamífero.
Considerando a distância comparativamente maior que o sinal nervoso tem de percorrer, More disse ser possível que a girafa não possa reagir rapidamente a fatos ocorridos lá embaixo.

Mas, para a girafa, as vantagens alimentares provenientes de seu corpo longilíneo superam qualquer diminuição na velocidade do reflexo. Não é preciso correr quando se é um poema silencioso, mascarado por uma árvore. NYT, 21.10.14 

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Moçambique deve reeleger hoje partido que governa desde 1975

Candidato da Frelimo, sigla que dirige o país desde a independência de Portugal, está à frente

Caso não eleja seu representante, Renamo terá também de lutar para continuar como maior força opositora
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
Cerca de 11 milhões de moçambicanos deverão ir às urnas nesta quarta-feira (15) para votar nas eleições presidenciais, legislativas e provinciais, que devem manter a hegemonia da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) no governo.
Analistas preveem que o candidato governista, Filipe Nyusi, ex-ministro da Defesa, seja eleito com cerca de 60% dos votos.
Além do presidente, serão eleitos também 250 deputados e membros das assembleias provinciais.
A Frelimo governa o país desde a independência de Portugal, em 1975 --primeiro, como partido único e, desde a chegada da democracia, como vencedor nas eleições de 1994, 1999, 2004 e 2009.
Apesar de relativamente desconhecido, Nyusi mantém uma grande vantagem sobre Afonso Dhlakama, da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), maior partido de oposição, e sobre Daviz Simango, candidato do MDM (Movimento Democrático de Moçambique).
Seus dois adversários, porém, cresceram muito durante a campanha.
CONTINUIDADE
No domingo, último dia de campanha, Nyusi disse que pretende dar continuidade ao governo de quatro décadas da Frelimo e pediu aos eleitores que não tenham medo.
O candidato da Renamo, que se comprometeu a mudar radicalmente a paisagem política das últimas duas décadas, acusa a Frelimo de permitir uma concentração sistemática do poder em um punhado de privilegiados.
Caso não vença, a Renamo terá de lutar para manter a posição de principal sigla da oposição, já que o MDM tem crescido, atraindo eleitores da Renamo e da Frelimo.
"O MDM é a principal voz da população que não concorda com o governo atual, e esperamos aumentar nossos representantes", disse à Folha o candidato do MDM, Daviz Simango.
Segundo ele, pela primeira vez na história desde o acordo de paz, há uma terceira via viável e que não nasceu da luta armada.
Cerca de 2.500 observadores internacionais supervisionarão o processo, cujos resultados devem sair em um mês.
VALE
A mineradora brasileira Vale é um dos maiores investidores estrangeiros em Moçambique e explora umas das maiores reservas de carvão mineral da África, na província de Tete, no norte.
A empresa, que já investiu US$ 4,5 bilhões no país, tem outros projetos, como uma mina de carvão em Moatize, a ferrovia Corredor Nacala e um porto em Nampula.
Mas o negócio em Tete enfrenta dificuldades, porque a ferrovia ainda não foi concluída e há problemas para escoar o carvão.
A empresa está tentando agora vender parte de seus ativos no país. A previsão é de que até 2015, com a duplicação da produção de carvão em Moatize, a empresa chegue a um investimento de US$ 8 bilhões.